Um recente levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), controlado pelo Ministério da Economia, mostra que as mulheres ocupam cerca de 20% dos cargos de TI no Brasil. Apesar de importante, o número ainda é bem inferior ao de homens no setor, que dominam os 80% restantes.
“Apesar de termos poucas mulheres cursando e atuando na área de tecnologia em relação aos homens, o que vemos hoje é um grupo seleto de mulheres que conseguiram galgar posições de liderança no mercado de TI”, opina Mônica Mancini, pós-doutora em Sistemas de Informação pela USP e professora do Senac EAD.
Ainda de acordo com ela, mesmo com o amplo domínio masculino no segmento, muitas companhias estão investindo mais na formação e contratação de mulheres para o segmento:
“Empresas multinacionais de tecnologia passaram a apostar em mulheres para ocupar os mais altos cargos de gestão no Brasil”, analisa.
Quem também tem uma visão otimista sobre o papel da mulher na tecnologia é Regina Cantele, coordenadora dos MBAs de Engenharia de Dados do Centro Universitário FIAP.
“A 100 Open Startups, realizada em novembro de 2021, apresentou 30 mulheres sócias-fundadoras e líderes de startups brasileiras, enfatizando o bom desempenho apresentado por suas empresas. Os principais segmentos com atuação delas são associados à tecnologia como HRtechs e inteligência artificial”, explicou.
Percebe-se, portanto, que na visão dessas especialistas, o mercado está aquecido para as mulheres na tecnologia. Mesmo que ainda existam diferenças, o gênero feminino está conquistando o seu espaço nesse segmento.
Os cursos de Ensino Superior mais buscado pelas mulheres na área da tecnologia
Sobre a procura de estudantes mulheres por cursos de Ensino Superior na área da tecnologia, Mancini nos apresentou alguns dados levantados pelo Censo de Educação, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
“A procura feminina por cursos de graduação como Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia da Computação, Engenharia de Software, Gestão de Tecnologia da Informação e Redes de Computadores representava 6,27% em 2015. Para 2021, esse percentual subiu para 10,04%”, conta a professora.
Experiente na área, Cantele se mostra bastante satisfeita com o crescimento da presença feminina em cursos de tecnologia:
“Não raro, na minha carreira de 15 anos como professora, entrei em salas de aula somente com homens. Agora, como coordenadora do MBA em Engenharia de Dados, um curso considerado muito técnico, fico bem alegre por ter, em todas as turmas, pelo menos uma representante feminina. Algumas, hoje, já ocupando cargos de liderança”.
Desafios do sexo feminino no campo da tecnologia
Questionada sobre as dificuldades que as mulheres passam no campo da tecnologia, Cantele declarou que a maior delas é a resistência que alguns homens têm de aceitar ou até mesmo ouvir propostas feitas por profissionais do sexo feminino.
“As resistências vêm não somente da equipe interna, muitas vezes fornecedores e parceiros querem impor suas soluções. Várias pesquisas já foram realizadas para comprovar este desafio”, reflete.
Ela prossegue: “Lembro-me de uma situação onde um homem passou a receber e responder os e-mails no lugar de uma mulher. Ele simplesmente não acreditava no número de mensagens trocadas para aprovação de seus projetos nessa condição.”
A diferença salarial também é um desafio a ser superado. Mancini comentou que, de acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Catho, as mulheres ganham até 34% menos que homens, ocupando os mesmos cargos e as mesmas funções.
Incentivos para as mulheres atuarem na área da tecnologia
As profissionais que entrevistamos concordam que devem ser realizados incentivos para que as mulheres sejam mais incentivadas a trabalhar no campo da tecnologia.
Para Cantele, devem ser buscados meios para inserir as meninas no uso e no contato com tecnologias emergentes, como o mundo do entretenimento e do metaverso, promovendo a construção de habilidades digitais.
Mancini vai mais além e acredita ser necessário intervenções legais para regularizar essa situação:
“O que deveria ser feito para incentivar as mulheres a estudarem e trabalharem com tecnologia seria criar políticas nacionais que proíbam a discriminação no tocante à contratação de mulheres na área de TI, de modo a serem garantidos direitos iguais entre os sexos”, opina.
As mulheres têm muito o que contribuir com o desenvolvimento de novas tecnologias e merecem todo o respeito e incentivos para que estudem, atuem e cresçam nessa área.
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