“O bom desempenho se deve a vários fatores: maior aceitação das tecnologias; melhor sinal de internet no campo, embora ainda tenha um longo caminho a percorrer; apoio governamental e a abordagem de grandes empresas, como Raízen, Basf e Bayer que têm investido cada vez mais em tecnologias e se aproximado do ecossistema de inovação”, afirma Eduardo Fuentes, Executivo-chefe de pesquisa do Distrito.
Raízen — gigante sucroenergética do setor com mais de 1 milhão de hectares de cultivo de cana-de-açúcar, incluindo áreas próprias e de terceiros, e 30 parques de bioenergia focados na produção de etanol, açúcar, biogás, cogeração de energia, eletromobilidade e cana-de-açúcar derivados — explica esta via de mão dupla entre o setor privado e as startups.
Há seis anos, a empresa criou o Pulse, um hub de inovação aberta, para solucionar gargalos nas operações agrícolas da empresa e que agora se expandiu para todas as áreas da Raízen. A Pulse faz triagem de startups, abre portas para testes de campo e, se o resultado for bom e o negócio for viável, são contratados os serviços de AgTechs. Hoje, o hub mantém parcerias com 58 startups das mais de 1.000 que possui em seu banco de dados. É procurado inclusive por AgTechs estrangeiras que querem vir para o Brasil. “A Arable, startup americana de agrometeorologia, é um exemplo. Ela queria validar sua tecnologia para cana-de-açúcar no Brasil. Como grande player do segmento, decidimos avaliá-lo e hoje a solução está sendo utilizada por produtores da região de Araçatuba, que sofre com a escassez hídrica”, afirma Ricardo Campos, Coordenador de Inovação Digital na Raízen e Gerente da Pulse.
O AgroScout israelense é mais uma AgTech que desembarcou recentemente no Brasil. Pariticipou do programa ScaleUp no Brasil, resultante da parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). “Com o programa, descobri que o Brasil é um dos países com maior área agrícola do mundo. Hoje é nosso mercado foco e não apenas como cliente, mas como base para desenvolver tecnologias para outras culturas, pois não temos café nem cana-de-açúcar em Israel”, afirma Simcha Shore, fundador e CEO da AgroScout, startup no Brasil que conta com clientes como a usina São Martinho, maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, e Pepsico. A startup oferece soluções para manejo de lavouras, captura dados de satélites, drones comerciais, clima e utiliza inteligência artificial para analisar e dar as melhores recomendações para ajudar agricultores e processadores de alimentos na tomada de decisões. O objetivo é eficiência e sustentabilidade: maior produtividade por área utilizando menos insumos.
Entre as startups avaliadas pelo Distrito, as categorias que mais se destacam são: agricultura de precisão, que oferece soluções que melhoram o monitoramento e a gestão das fazendas, resultando em ganhos de eficiência produtiva; mercado agrícola, soluções de marketplace focadas em serviços agrícolas; Máquinas agrointeligentes, startups que desenvolvem equipamentos inovadores, incluindo dispositivos que utilizam IoT; e Agfintechs, empresas que oferecem crédito para cooperativas e agricultores.
Já há uma série de startups brasileiras (Agrotools, Nagro, TerraMagna e Solinftec) cotadas para se tornarem o primeiro unicórnio do Agri nacional — uma empresa a atingir valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.
Um dos candidatos é a Agrotools, fundada em 2006, quando o armazenamento de dados era caro e limitado a países e grandes corporações. “Criei a Agrotools com o sonho de usar dados para tomar decisões. Hoje contamos com o maior banco de dados agrícola do mundo, com mais de 1.300 tiers de múltiplas fontes com soluções visando financiamento rural, eficiência de vendas, ESG, compliance, proteção de marca, rural seguros e inteligência da cadeia de suprimentos”, afirma Sérgio Rocha, fundador e CEO da Agrotools.
Pioneirismo no uso de sensoriamento remoto, IA, blockchain e APIs para o desenvolvimento de tecnologias digitais soluções baseadas em plataforma própria desenvolvida exclusivamente para o agronegócio que proporcionou à Agrotools uma base de clientes de 200 corporações, do agronegócio ao financeiro, como como McDonald's, Nestlé, Carrefour, Agrogalaxy e Rabobank.
Entre as análises, startup mede risco socioambiental de produtores rurais para que os bancos possam ter certeza de que não estão financiando o desmatamento ou trabalhos análogos à escravidão. “Realizamos mais de 30 milhões de análises socioambientais nos últimos dois e meio ano. Em 2006 demorava 7 horas para completar uma análise, hoje leva menos de 1 segundo”, diz Rocha. “No passado, a agenda socioambiental perturbava a dinâmica do mercado. Hoje é uma oportunidade, uma forma de mostrar aos compradores de todo o mundo que a origem da cadeia de abastecimento é limpa.”
Caramuru é um cliente. Empresa brasileira de processamento de grãos especializada em produtos exóticos mercados, como a Noruega, com um padrão de consumo muito exigente. “Eles estão protegidos pelas tecnologias Agrotools. Portanto, o produtor norueguês que compra farelo de soja da Caramuru para alimentar seu salmão pode ter certeza de que o produto não veio de área desmatada e utiliza essa informação para vender seu pescado”, afirma Rocha.
Com soluções em larga escala, Agrotools analisa mais de 4,5 milhões de territórios rurais, monitora R$ 15 bilhões em commodities e mais de R$ 50 bilhões em carteira de financiamento rural com pelo menos uma das soluções da empresa. Além disso, dispõe de ferramentas para a reinserção de pequenos e médios produtores na cadeia do agronegócio. “Temos a Reconecta Plataforma para que os produtores conheçam a situação socioambiental da propriedade, de acordo com os critérios analisados pelos frigoríficos e tradings, abrindo possibilidade para que eles adiram a um plano de adaptação e reinserção no mercado formal”, explica.
Atualmente, a plataforma é utilizada pelo frigorífico JBS e pelo Programa de Reinserção e Monitorament (PREM) do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC). Não por acaso a Agrotools foi selecionada pela Apex-Brasil para participar de um programa de aceleração de negócios e atração de investimentos no Vale do Silício e neste ano entrou oficialmente no mercado americano. Além do Brasil, a empresa possui operações na Argentina, Austrália e Paraguai.
Outra tendência que veio à tona no relatório do Distrito é a agricultura regenerativa, ou seja, AgTechs com soluções climaticamente inteligentes ajudam os produtores a produzir mais e melhor, aumentando a produtividade na mesma área, capturando carbono e contribuindo para a mitigação da mudança climatica. É a tecnologia a favor da segurança alimentar e do meio ambiente.
O artigo é um extrato do relatório “Why Brazil? O mapa dos setores mais estratégicos de uma das economias mais promissoras do mundo (e por que investir neles)”, produzido pela Apex-Brasil, Exame e Ministério do desenvolvimento, indústria, comércio e serviços.
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